Thursday, May 31, 2007

[skin] dedos

Não consigo segurar-te porque deixas teus dedos escorregar por entre os meus.

Tuesday, May 29, 2007

[skin] nasciturus

Nasci como se viesse das sombras.
Os músculos a latejar. A hipocrisia do sangue a fervilhar.
O dedilhar dos passos no abrir de olhos perante a luz forçada.
Um mundo inteiro e a tendência – logo a priori – para remar no sentido oposto da maré.
Um abrir os olhos em silêncio quando tudo é ruído.
Eu a calar as palavras todas quando o raciocínio matemático do sentido suposto das coisas por saber sidas é proferir. Proferir. Proferir. E eu em silêncio contra o mundo.
Eu sem conseguir dizer nada. Porque todas as palavras não têm significado. Porque nenhum significado cabe nas palavras. E eu a não ser mais do que essa ausência inquestionável de significado perante a racionalidade da ordem caótica do mundo por ser.
Talvez tenha vindo das sombras.

Monday, May 28, 2007

[skin] faRpa

Tenho arame farpado a cair das mãos. Nas mãos.
Resquícios de furrugem dentro das unhas.
E aquilo que parece ser . Sim. . Restos de . Branco. Restos de vestido de branco.
Depois tenho de abrir os olhos e limpar as mãos. Mas só depois. Naquilo que me restar da roupa.

Depois deito-me. Nos restos da tinta. No cheiro da tinta.
E dispo-me. No cheiro que só o frio tem. Dispo-me. Por inteiro.
Retomo o arame nas mãos. Farpadas.
Nas unhas a ferrugem. No cheiro frio e tinta.
Começo a correr. Ainda deitado. A correr o arame pelo corpo todo. Farpa a farpa. Pela pele. Pelos olhos. E corro. Arame a dilacerar o corpo. A alma.
O que resta da tinta. Ferrugem. Pó.
Um só corpo.
.

Tuesday, May 22, 2007

[skin] doubt

I guess there's something missing.
Maybe it's me just missing something.
Either way...whatever it is, it's not here and it's not getting here any time soon...so...so...there's still something missing here and I'm still here and...
Maybe I should go out and look for that missing shit. Or maybe I should just stand still and wait.
Guess I'm needing to feel something again...before I turn to dust.
I'll find a place. Again. Once more. Maybe for the last time. Maybe I'm just too tired. Getting old.
Maybe I'll find it. Maybe I'll find me. Maybe not.

[skin] long view

long way to somewhere. or going nowhere. or something in between.
portugal. fev. 2007

[skin] milimétrico

Pensa. Quando a dor for quase a rasgar. Aperta. Quando o tempo estiver a chegar. Cessa. Quando a lua aparecer. Cobre. Quando os restos não importarem. Grita. Quando os mortos te tocarem. Sorri. Quando a chuva não parar de cair. Dança. Quando o sangue parar de escorrer. Guarda. Quando os riscos forem desenho. Esculpe. Quando todos os pássaros levantarem voo. Pousa. Quando o vento levar tudo. Continua. Quando as palavras faltarem. Escreve. Quando tudo deixar de ser suficiente. Procura. Quando nada chegar a ti. Escava. Quando te perderes. Sente. Quando encontrares. Esquece. Quando começares a sentir. Sossega. Quando tudo acalmar. Naufraga. Quando as marés descerem. Navega. Quando os barcos partirem do porto. Mergulha. Quando chegares à ilha. Submerge. Quando te sentires chegar a terra. Voa. Quando tiveres de partir. Espera. Enquanto puderes esperar. Prepara. Quando puderes ficar. Segue. Quando tiveres de chorar. Adia. Quando não conseguires esperar mais. Agarra. Quando fizer falta. Segura. Quando voltar a fazer falta. Chama. Quando faltar um milimetro para caires. Chora.

Thursday, May 17, 2007

[skin] close up

Eu podia fechar os olhos para não ver os erros à minha frente mas depois não sei se conseguia ver o resto que faz falta. Não sei. Não sei o que faz falta. Só sei quando lhe der pela falta. Mas sei que algo faz falta e que isso não posso deixar de ver. Assim não fecho os olhos. Não coloco as palmas das mãos frias sobre os olhos para poder continuar a sentir. Não. A ver. Para poder continuar a ver. Mesmo que seja uma bala na direcção de mim. Eu vejo. Eu quero sentir. Ver. Quero ver mesmo que isso anuncie que vou morrer a seguir. Posso até morrer a seguir mas não fecho os olhos.

Monday, May 14, 2007

[skin] cAusAs

Esquecidos os pormenores pelas ruas desertas, podem ver-se as causas com clareza.
No confronto dos dois lados de todas as coisas, pode prever-se o quase final.
Nos resquícios das memórias entendidas como fragmentos a laminar em definitivo, o dia e a noite a confundirem-se na fusão que só o eclipse pode tocar.
Dois lados. Duas partes. Um só percurso. Lugar nenhum para chegar. O mundo inteiro para encontrar.
Dois nadas. Um tudo. Dois tudos tornados nada. Dia e noite. Noite feita dia. Principio que não se inicia senão no final de si mesmo.
E todas as dúvidas, todas as incertezas podem tornar-se o lugar mais fácil para sentir. E todos os sentires, todos os lugares vazios, tornar-se certezas. A clareza das causas.

Thursday, May 10, 2007

[skin] jura

Sacrifico o que resta da tua existência para comprovar a (im)possibilidade da minha. Talvez eu já não possa fazer nada do que esperavas quando não esperavas rigorosamente nada. Talvez tu agora não possas esperar que faça seja o que for que eu evitava conseguir fazer.
Juro que quando a noite terminar já terei lavado o sangue todo.
Juro que o dia não vai chegar a tempo de me ver cair.
Juro que desapareço antes que te obrigues a dar pela minha ausência.
As sombras deixo-as todas para ti. O vazio fica em mim.
Nada vai voltar atrás.
Sabes bem que nunca se pode voltar atrás.
As histórias antigas ficam longe.

Tuesday, May 08, 2007

[skin] flu_io

´flutuo.
´flutuo.
´percorro cada canto do mundo. flutuo.
´em suspensão. no vértice do que se anuncia ser colisão. flutuo.
´em silêncio. em vertigem que não se ampara. flutuo.
´e quando abro os olhos. quando arrisco abrir os olhos. caio.
´quando ouso tentar seguir. caio.
´caio.
´caio.

Thursday, May 03, 2007

[skin] factvm

Se cada gota da água que me escorre do corpo ofegante no embate contra o teu pudesse ser um caminho de fuga, eu seria partida.
Se cada lágrima que deixei por ser chorada no confronto com o resto do mundo pudesse ser incêndio, eu estaria a chegar às cinzas.
Se cada lugar onde me deixei parar no teu caminho pudesse ser certeza, eu estaria na vertigem da ignorância.
Se cada um dos erros que coloquei religiosamente em cada um dos gestos pudesse ser retorno, eu estaria a chegar.
Se cada uma das vezes que respirei pudesse ser vontade, eu estaria aqui.
E nada disso aconteceu.