[skin] Rumor
Há dias em que quase esqueço porque te deixei ir. Ou porque me deixei ir. A ordem dos factores é totalmente irrelevante dado que nos deixámos ir, ambos.
Quase que esqueço porque sei sempre porquê. E tudo o que dura para sempre é pesado, é rijo, é áspero.
Quase que quero esquecer tudo o que está por detrás da sombra que somos hoje um do outro mas nisso não importa. Não se deve esquecer nada do que nos tornou o que somos hoje. Nada.
Sei porque te deixei ir e isso basta-me.
Talvez tu não saibas. Talvez nunca tenhas sequer chegado a pensar sobre isso mas a verdade é que também tu sabes a razão. Não podia ter sido de outra forma. Por isso não lutaste. Não te contrapuseste aos movimentos que se tornavam cada vez mais frios e distantes. Não opuseste à minha guerra. Não tentaste serenar as marés. E deixaste-te ir. Como se nada fosse. Como se não importasse.
E foi apenas isso que eu pude ver. O que me permitiste ver. Essa possibilidade de fuga, de saída, de partida, sem questões, sem comentários, sem guerrilhas em matos por desvendar. Nada. Nem uma palavra. Nem um gesto. Nada.
Não me deixaste nada a que me pudesse segurar. Em nenhum momento. Talvez uma palavra, um dia, perdida por entre a ebriedade de um momento roubado ao tempo e mais nada. Durante todo este tempo. Mais nada. Como poderia eu ficar no lugar sem chão?
Que parte da minha racionalidade esperavas tu que eu destruísse para me poder deixar ficar? Se soubesses o que sou no que está além de ti terias visto a total impossibilidade dessa permanência ilusória do meu ser na tua ausência. A impossibilidade concreta de eu me manter em lugar nenhum.
Não te conheço.
Não me conheces. Não sabes quem sou. Por isso abandonaste tudo. Não querias saber quem era quando te ouvia rir, quando te lambia as feridas, quando te segurava os dedos, quando te roubava os silêncios. Não querias saber.
Não terá sido difícil seguir. Não estavas por perto. Estavas demasiado longe sequer para me veres na sombra dos dias ou das noites. Demasiado longe sequer para recordares a que sabia a minha solidão. Demasiado longe para sequer pensares sobre o meu nome. demasiado longe para me teres por perto.
Não foi difícil.
Seguiste os caminhos todos que a ilusão te deixou entender qual miragem em deserto abandonado nas areias imensas de todas as coisas que o mundo apresenta para viver. E viveste-as todas. Talvez já nem te recordes do início da viagem mas há um continuum que será sempre teu e onde tuas asas crescem como as árvores na floresta. Por muito tempo. Por muitos anos.
Qual aragem de deserto tu a desenhares as mãos por outras terras, por outros corpos, a seres livre e imenso na forma que é apenas tua de ser e de poder continuar a ser.
Por isso te deixei prosseguir.
Porque eu não sou lugar onde cabe a tua liberdade.
Porque tu não me vês como lugar onde poderia caber a tua liberdade.
Porque eu não te podia mostrar sem dizer palavras que poderias querer ouvir e o que não disse, o que tu não disseste, tornou-se grande demais para cabermos nós no lugar que nos tinha sido reservado.
Eu tinha de te deixar ir.
Não podia ter sido de nenhuma outra forma.
Não há lugar para o tamanho das tuas asas dentro do meu corpo.
E eu não quero esperar pelo que tu nunca vais conseguir dizer.
Quase que esqueço porque sei sempre porquê. E tudo o que dura para sempre é pesado, é rijo, é áspero.
Quase que quero esquecer tudo o que está por detrás da sombra que somos hoje um do outro mas nisso não importa. Não se deve esquecer nada do que nos tornou o que somos hoje. Nada.
Sei porque te deixei ir e isso basta-me.
Talvez tu não saibas. Talvez nunca tenhas sequer chegado a pensar sobre isso mas a verdade é que também tu sabes a razão. Não podia ter sido de outra forma. Por isso não lutaste. Não te contrapuseste aos movimentos que se tornavam cada vez mais frios e distantes. Não opuseste à minha guerra. Não tentaste serenar as marés. E deixaste-te ir. Como se nada fosse. Como se não importasse.
E foi apenas isso que eu pude ver. O que me permitiste ver. Essa possibilidade de fuga, de saída, de partida, sem questões, sem comentários, sem guerrilhas em matos por desvendar. Nada. Nem uma palavra. Nem um gesto. Nada.
Não me deixaste nada a que me pudesse segurar. Em nenhum momento. Talvez uma palavra, um dia, perdida por entre a ebriedade de um momento roubado ao tempo e mais nada. Durante todo este tempo. Mais nada. Como poderia eu ficar no lugar sem chão?
Que parte da minha racionalidade esperavas tu que eu destruísse para me poder deixar ficar? Se soubesses o que sou no que está além de ti terias visto a total impossibilidade dessa permanência ilusória do meu ser na tua ausência. A impossibilidade concreta de eu me manter em lugar nenhum.
Não te conheço.
Não me conheces. Não sabes quem sou. Por isso abandonaste tudo. Não querias saber quem era quando te ouvia rir, quando te lambia as feridas, quando te segurava os dedos, quando te roubava os silêncios. Não querias saber.
Não terá sido difícil seguir. Não estavas por perto. Estavas demasiado longe sequer para me veres na sombra dos dias ou das noites. Demasiado longe sequer para recordares a que sabia a minha solidão. Demasiado longe para sequer pensares sobre o meu nome. demasiado longe para me teres por perto.
Não foi difícil.
Seguiste os caminhos todos que a ilusão te deixou entender qual miragem em deserto abandonado nas areias imensas de todas as coisas que o mundo apresenta para viver. E viveste-as todas. Talvez já nem te recordes do início da viagem mas há um continuum que será sempre teu e onde tuas asas crescem como as árvores na floresta. Por muito tempo. Por muitos anos.
Qual aragem de deserto tu a desenhares as mãos por outras terras, por outros corpos, a seres livre e imenso na forma que é apenas tua de ser e de poder continuar a ser.
Por isso te deixei prosseguir.
Porque eu não sou lugar onde cabe a tua liberdade.
Porque tu não me vês como lugar onde poderia caber a tua liberdade.
Porque eu não te podia mostrar sem dizer palavras que poderias querer ouvir e o que não disse, o que tu não disseste, tornou-se grande demais para cabermos nós no lugar que nos tinha sido reservado.
Eu tinha de te deixar ir.
Não podia ter sido de nenhuma outra forma.
Não há lugar para o tamanho das tuas asas dentro do meu corpo.
E eu não quero esperar pelo que tu nunca vais conseguir dizer.
1 Comments:
O encontro com o outro é sempre a experiência de Ícaro, é sempre o derreter das asas de «cera» sob a luz do sol, terrivel e adoravelmente quente e apaziguante; adoradamente vigoroso e impotente, cada bater de asas é a aproximação do fim; é no início, onde tudo se concebe, que tudo, afinal, parece vir a morrer, de estar morto.
Um texto sonoro...
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