Tuesday, October 30, 2007

[skin] Demora

Acho que vai demorar algum tempo. Não muito. Não há necessidade de ter medo. Não demorará uma eternidade. Será apenas o tempo suficiente para ser suficiente o tempo. Não mais que isso. Demora o que demorar. Mas vai demorar. Por isso ficam já a saber. Não adianta esperar mais cedo por coisas que têm um tempo definido. Como as flores. Aquelas que só nascem no inverno. Assim sou eu. A nascer no inverno. Ou algures por esse tempo. Não antes. Não depois. No tempo preciso. O que for necessário. Não esperem em ânsia. De nada vale querer mais cedo. Até lá não presto. Não tenho valor. Não sou comestível. Impróprio. Para qualquer tipo de consumo. Impróprio. Como leite azedo. Fora de tempo. Ou não não no tempo certo. Acho que vai demorar. Sentem-se e apreciem a vista.

Monday, October 29, 2007

[skin] NeXo

Rasga. O papel. Com as letras. Mesmo que tenha as letras todas. As do meu nome. As do teu nome. Os teus desenhos nas letras. Rasga.
Coloca os dedos sobre a tinta. Beija as mãos. Sente o sabor de ti. A tinta preta. Não. A tinta vermelha a pingar-te no chão.
Aproxima-te da parede. Toca o espaço inteiro como se fosse meu corpo deitado sobre o chão. Lento. Movimentos lentos.
Pega no papel rasgado. Com as mãos cheias. Coloca-o sobre a tinta. Sobre a parede. As letras a desenharem os lugares na tinta. A escreverem palavras. S-e-m-n-e-x-o. No sentido do que somos.
Agora descansa.

Friday, October 26, 2007

[skin] Como Se

É como se o tempo abandonasse a dor
Como se o fado deixasse a voz.
Como se as cordas perdessem o tom.
Como se as hipóteses todas se tivessem incendiado.
Como se tivesse deixado de haver chão. E passos. E os pés.
E ninguém de asas a chegar até aqui.
A boca seca. A falta de palavras.
É como se tivesse deixado de haver ar agora que se tentava tanto respirar.
É como se a dor abandonasse o tempo.
Como se a voz deixasse o fado.
Como se o tom perdesse as cordas.
Como se tudo fosse cinzas.
Como se não houvesse mais chão.

Thursday, October 25, 2007

[skin] constatação

novo.
novamente.
a constatação.
os factos a serem superiores aos não factos - às ilusões - que seguramos nas mãos - com força - a fingir que se mergulharmos as mãos na água - como se houvesse mar por perto - eles não desapareceriam - como se - como se fossem segredos que nunca ninguém contou - como se - como se não passassem disso mesmo - ilusões - factos que não são factos porque assim escolhemos que eles - como se - sejam.
a constatação.
os factos aceites como tal - factos - e assumidos sem pudor - factos - como se não passassem disso mesmo - ainda que a água pudesse dizer o contrário se houvesse mar por perto - e depois a não restar mais do que - factos - o significado dos mesmos - não ilusões - que nada é para além do que não queriamos que fosse.
a constatação.
de novo.
que nada fica - facto - de cada vez - facto - que fechas a porta - ilusão.

[skin] Reserva

Silêncio reservado ao segredo da noite
Véu por despir no silêncio do segredo
lugar de fundo onde nada se encontra
quando nada se pode procurar.

Letra vazia feita tinta em crina de cavalo.
Alado.
O voo em pique qual rapina a rarear o ar
no contorno súbtil das coisas por evitar.

O confronto aguardado no abraço que chega depois
no desencontro dos corpos feitos destino.
O abraço que chega antes da chuva
e depois lama. Lama. Lama.

As palavras feitas gôndola.
A pele canais pétridos de onde emerge a vida
como resto sacro esquecido no tempo pelo pó
das pedras recolhidas nas amarras dos amanheceres.

A pele a escrever as águas desenhadas.
O corpo a guardar o segredo na ternura
do abraço que só a noite pode ter guardado
quando tudo não passa da ilusão de se ser algo mais que dois lugares em absoluto desencontro onde a chuva não chega a cair.

Tuesday, October 16, 2007


running out of sanity
running out of honesty
running out of will
running out of desire
running out of pacience
running out of peace
running out of strenght
running out of vulnerability
running out of melodies
running out of silence
running out of life
running out of the world.

[skin] senSaçÃo

Cavo um abismo enorme entre o meu sexo e a possibilidade de te foder.
Não sei onde ponha as mãos.
Não sei onde pouse a língua.
Não sei se te encontro.

Cavo-me num abismo coberto de escarpas.
E fendas.
E lugares vazos de sensação.

Por vezes desconfio que não estou verdadeiramente vivo. Os sinais todos parecem indicar que não estou vivo. Por isso a necessidade de te foder. De ter onde pousar a língua – teu peito, tuas costas, teu ouvir – de colocar as mãos – teu pescoço, tua coluna, teu fundo – de te encontrar para me saber vivo.
Todos os sinais dizem que não estou aqui. Quero que me sintas. Preciso que me sintas. Preciso saber.

Cavo um abismo enorme. E – na verdade – é entre mim e o que quero sentir por ti.

Monday, October 15, 2007

[skin] - < - > -

Fecha os olhos. Tens noção da dimensão da escuridão?
Olha bem para ti. De olhos fechados. Reconheçes o limite da tua incapacidade?
Talvez possamos dormir depois de teres visto tudo. Talvez possamos segurar os momentos nas pontas dos dedos para, sem sombra de dúvida ou hesitação, podermos deixar cair o que restar. E rir. Rir como se o acto de partir fosse o mais próximo da possibilidade de sentir.
Talvez eu consiga dormir. Agora que reconheço o tamanho da solidão que emerge da escuridão que tu vês em mim. Talvez tu possas rezar. Sem abrir os olhos. E me encontres a dormir.

[skin] esc-a-r-pa

espero nas escarpas.
corrompo as areias antes de atingir o chão no corpo...
misturo o sangue no sexo e nos cabelos e oro.
devasto o pecado.
perdoo a verdadeira ausência de tempo que se segue à queda e espero,
nas escarpas,
as escarpas.

[skin] ?

Pergunta-me se gosto de voar
se gosto de lamber letras
se gosto de sugar os espaços
se gosto de me emergir nas esperas

Pergunta-me se quero correr nas ruas
quero furar pneus e muros
quero permanecer à chuva
quero perder o norte

Pergunta-me se posso deixar de sonhar
posso parar de comer o mundo
posso sentir mais do que posso
posso guardar os restos do vidro nas mãos

Pergunto-me se consigo parar de respirar por mais minutos
consigo cegar as sombras e o húmus
consigo gastar os espaços entre a água e o ar
consigo fazer as letras desaparecer

Pergunta-me se sei contar o tempo para trás
sei a que sabe o frio de Novembro
sei o que vem depois do deserto
sei onde posso cair antes de chegar ao chão.

Pergunta-me o que quiseres.

[skin] #

Tens tempo para dizer que voltas? Se não tiveres não voltes. Não tenhas. Não tempo. Não digas.
Tens volta para me dizeres com tempo? Não voltes. Não há tempo.
Respira para dentro. Conta até ao limite da tua inspiração e exala o ar todo na minha mão. Eu seguro esse teu momento e sorvo-o na sua absoluta ausência para me iludir de que esse espaço é o tempo todo feito presença.
Não voltes para me dizer mais nada. Tenho tudo o que preciso na mão. E tu não tens tempo. Não podes fazer mais nada para além do que te resta fazer.
Não digas.
Não voltes.
Não há tempo.

Saturday, October 13, 2007

[skin] dance

Je peux pas dancer. Non plus. Car ton corps n’est pas ici. Ton corps n’est pas en moi.

Thursday, October 11, 2007

[skin] diálogo

Aqui estás.
Aqui estou.
Olho-te enquanto as pessoas passam por nós. Tipo furacão. Tipo demasiado depressa para o momento.
Olho-te enquanto tenho a certeza de que não te quero ver. E não te vejo. Opto. Não.
Escuto cada palavra que me diriges – se ma diriges – e sorvo-a por completa, desconstruo-a, decomponha-a em todas as pequenas infimas partes que a fazem ser o significado que tem e coloco-as dentro de mim. No lugar de onde nada sai.
Sei que me escutas. E eu em silêncio. Não te quero falar. Não te quero a ouvir-me falar. Nem uma palavra enquanto tu a respirares-me inteiro.
Sinto o teu cheiro no sabor que me ficou dos lábios a quase tocarem-te a face. Deposito cada fragmento do odor de ti e deixo-a a flutuar no que restar da minha pele suja e pétrida.
Sinto o teu corpo a segurar o meu. Sinto os teus dedos a invadirem-me os pensamentos e a agarrarem o que restava de mim dentro das memórias do que fui sem ter sido coisa nenhuma que tivesse valido a pena. E tu lá. Aqui.
Estou aqui.
E eu tão longe. Apesar de saber que me reconhecerias ainda no maior dos abismos de cinzas. Tu. A reconheceres quem sou. Incondicionalmente.
Aqui estou- aqui estás. Não estamos nós. O que eu recordava que fôra – um dia, em tempos sidos – uma qualquer coisa que tu podes sempre considerar não ter chegado a ser e que foi tanto mais do que tudo aquilo que alguma vez poderias ter querido que tivesse sido.
Queria poder estar aqui.
Toca-me. Morde-me. Rasga-me a pele inteira sem pudor nenhum. Finge que o que passou não foi mais do que o que passou e retorna-me ao meu corpo. Fere-me. Por dentro. Sem que tenhas medo. Nunca tiveste medo comigo. Fere-me.
Estendo os dedos ao limite máximo da fabilidade do ar que nos separa agora. A distância de um beijo e eu no recuar. Recuo. Um passo. A deixar-te ir. Dois passos. A deixar-me ir.
Não.
Estendo os dedos. Vou na demanda do toque de ti. Vou na demanda da memória do que me fez ser quem fui. Em ti. Do corpo de ti onde fui eu sem mais nada. Sem ter medo. E recuo. Porque recuo?
Não.
Estás aqui.
Não.

Wednesday, October 10, 2007

[skin] noctur-Rutcon

Penso que terei andado a procurar-te nas ruas. É uma possibilidade. Talvez seja um qualquer delírio ébrio a percorrer-me a memória mas estou quase certo de que era eu. Na procura. Na rua. Caído. Quase a cair. Ébrio. Quase sóbrio. Ébrio. A mover-me no encontro de vapores. Onde terás estado este tempo todo que te procurei. Onde. Não sei que horas são agora. Possibilidade. Não me toleras. Não suportas ao que cheiro. Que horas serão. O odor que o meu corpo emana não te revela nenhum mistério. É possível. Nenhum caminho novo. Apenas lugar a não percorrer. Deve ser tarde. Fumo. O vulto de ti recordado no fumo do meu cigarro. Um. Depois outro. Para me iludir. Para me queimar. Não te chegas perto. Talvez para me tentar ir morrendo. Porque deve ser já muito tarde. É possível que o seja. Quase sóbrio. Outro. Três. Depois daqui a queda. Areia. Na areia. Branca e fria. A mover-se qual espiral a rodear-me o pensamento. Não faz mal. Não tem importância. É possível que se tenha tornado demasiado tarde. Talvez agora possa retornar. No caminho. Nas ruas. É tarde.

Sunday, October 07, 2007

[skin] corpUs

Sinto-me mal. Acho que é possível ter apodrecido. Neste compasso de espera entre o meu corpo e lugar nenhum. Ter apodrecido como folha feito húmus no meio da serra. Num qualquer campo vetado ao desterro. Húmus. Apodrecido.
Sinto-me mal. Acho que o meu corpo não aguenta mais. Os ossos partidos. Os ossos desviados do lugar correcto. O risco da fractura a ponderar a iminência da queda.
Talvez mais um segundo e eu exploda. Talvez um minuto e eu padeça. Talvez mais um dia e nada reste.
O meu corpo hoje não me pertence.
Onde é que eu me deixei cair?

Friday, October 05, 2007

[skin] AcTo

Se me pintares os olhos de vermelho eu juro que volto a andar. Reúno os cacos todos que são as sobras dos ossos que morreram nas minhas pernas e começo a subir as escadas que chegam até ti.
Pinta os meus olhos de vermelho. Não os lábios. São os olhos o que falta para que voltes a olhar-me. Para te veres. Outra vez. Como antes.
Levanta-me antes que o último resquício do reflexo desapareça.
As minhas pernas vão andar. Juro. Vão andar. Vou conseguir chegar até ti. Se for vermelho. Se forem os olhos.
Se olhares para mim.

Monday, October 01, 2007

[skin] momento

Era de noite quando cheguei. Quase. Era uma bruma a iniciar um qualquer tipo de queda lenta sobre as mãos. Quase de noite quando entrei. A sala pareceu-me cheia pela percepção que tive do volume de vultos enegrecidos que circundavam as mesas. Redondas, penso. Muitos. Meia-luz. A sala apenas a meia-luz para dificultar a visão aos estranhos. A mim. Fiz um esforço. Maior do que eu. Para ver. Sem ver. Para avançar. Senti que todos os olhares pousavam em mim e me feriam sem piedade. Sem piedade nenhuma. Sabia-me só e estava profundamente emerso em seres estranhos cujos rostos eu não podia perceber. A visão cada vez mais dúbia. Enevoada. Sem definição. Procurava-te no centro da sala. Evitava olhar para os lados. Mordiam-me o corpo inteiro. A dor era intensamente aguda. Cada um daqueles corpos a abraçar o meu com as lâminas dirigidas aos ossos. E eu acordado a sentir tudo. Tudo. Até ao fundo. A carne a rasgar mesmo até ao fim e nem uma gota de sangue. Talvez pudesse ter caído alguma chuva mas não to posso garantir. A minha atenção centrada na demanda do teu vulto. Teu corpo. Por entre todos os que me violavam. Eu na hesitação do respirar a saber que o ar terminaria em breve e eu teria de ceder. As mesas – não redondas, não – a tornarem-se obstáculos à minha tentativa de movimento. Os passos. E eu a cegar. A cegar como se os momentos terminassem todos ali. Um lugar sem qualquer direito a um qualquer retorno. Nenhum retorno. Nenhum direito. Inspirei. O ar a tentar permanecer numa luta hercúlea com a necessidade de gritar teu nome por entre a densidade da minha cegueira. Expiro. O ar a fugir de mim com as asas de anjo caído sobre as escarpas das montanhas que te rodeavam o olhar quando me vias. Hesitava o respirar. Servi-me de um copo à esquerda dos meus dedos. Antecipei o liquido a queimar-me a alma inteira e a vontade de cair. Um vulto a levantar-se e a dirigir-se para a porta. A porta avançara muito sem que eu me tivesse apercebido. Sem saber que me movia excepto quando uma qualquer mesa feita obstáculo incontornável. E a minha carne ferida. E a querer chamar-te pelo nome e a não poder falar. A sala em silêncio como se lugar sagrado selado em voto de silêncio carmelita. Passos descalços sobre a areia do chão. Agora que o pude sentir. Meus passos descalços. O chão inesperadamente quente. E eu frio. Frio como uma manhã de inverno em que esperei que me salvasses de mim. Eu descalço e nú. A chegar. Ao frio. Frio como esta sala em que me arrasto sem ver. Como não havendo qualquer possibilidade de amanhã vir a existir em qualquer um de nós. Enquanto eu descalço a procurar-te nos limites da sala. A evitar olhar para os lados. A já não ver sequer o silêncio. A não ver nada e a sentir-me como se vazo de tudo. Talvez até de ti. Percebi que talvez não devesse procurar-te mais porque as coisas que partem não devem ser procuradas. Para não serem encontradas. É para se encontrem a si. Para se verem no reflexo da areia e saberem o lugar reservado à água. No meio do delírio. Na imensidão do deserto. Na profundidade serena da solidão perfeita. Nenhuma mão a amparar a queda. Nenhum corpo a lamber o suor. Nenhuma lâmina a provocar dor. Nenhum pedido a assolar a promessa. A solidão perfeita. Tu a solidão perfeita. Eu a solidão reencontrada na perfeição de ti. Virei as costas. Virei o corpo todo. Senti os pés rodaram na areia e decorei o movimento. Respirei. Recomecei a respirar num movimento contínuo. Ofegante. Serenamente ofegante. Um movimento seguro de quem pode cometer o gesto sem pudor. Sabia agora que poderia ver o caminho. Até à porta. A cegueira a abandonar-me na vontade de deixar vêr o caminho previsto. Partida. A beleza da partida. Eu em direcção à mesma porta por onde tinha colocado o corpo na dimensão de ti como se o desejo a mover-me. Como se a levar-me. A fazer-me ir sem temer. Porque ter temido o que deveria ter sido visto. O olhar seguro na porta. O corpo não mais dilacerado pelos vultos – agora corpos inteiros que me não olhavam, que me não feriam, porque eu não existia ali. Vi o chegar de todas as coisas. No sentido correcto. De todos os corpos. De todos os copos. E parti. Fechei a porta. Segurei-me nas mãos. Apaguei todas as últimas luzes. E dormi. Na solidão mais que perfeita.

[skin] tela

Guardas os segredos inteiros das coisas por terminar como se os amanhãs não pudessem ser mais do que o que resta de um hoje incessante que se prolonga num movimento de espiral como breu nas noites de se ser uma repetição levada ao expoente máximo da exaustão.
Completas as peças ao construir a imagem. Imagem inacabada de sombras de gestos que não chegam a ser o movimento das coisas vivas porque se esquecem de respirar como se respirar pudesse ser um qualquer tipo de dor estranha que se entranha pela pele e percorre as veias das tintas derramadas no mais puro silêncio a que a solidão pode soar.
E nada disso tem a importância devida porque as coisas não chegam realmente a terminar. Nunca. Cada peça. Cada recomeço. Cada gesto enebriado no desejo de chegar ao lugar de onde se poderia – se a possibilidade fosse possível – ter permanecido sem vontade de voltar a partir. Over and over again. Como se a terra fosse lugar roto e os buracos em que tropeças uma qualquer lógica fisica como se um qualquer efeito de sucção a encontrar a tendência certa da gravidade e a queda inevitável a torar-se lugar sereno para parar. Apenas porque sim. Porque poucas outras coisas poderão chegar a ter importância.
Talvez possas até esconder o olhar por detrás da vontade de vêr tudo.
Talvez consigas poder esquecer o que te assola como rasgo de carne e sangue feito lava de encontro ao mar. Duas temperaturas a extremar. A fundir-te a alma e a fuga a tomar o rumo dos passos. Corre. Não olhes para trás. Corre. Pede ao mundo que aguarde por ti do outro lado da porta. À saida do labirinto. Para poderes retomar o caminho.
Não olhes para trás para não saberes a vertigem quando te encontrares em (des)equílibrio sobre uma aresta feita gelo inteiro da tua inconstância. Sente o corpo pender na distância como dança lenta que vem de dentro. E não pares nunca para olhar para trás. Ou a aresta a desfazer-se no calor do teu desejo insane. Ou a distância a perder-te no sentido descendente como se abismo feito caminho único. Não olhes. Guarda o olhar no sangue e deixa o vento correr-te nas mãos.
Guarda os segredos inteiros.