Thursday, October 11, 2007

[skin] diálogo

Aqui estás.
Aqui estou.
Olho-te enquanto as pessoas passam por nós. Tipo furacão. Tipo demasiado depressa para o momento.
Olho-te enquanto tenho a certeza de que não te quero ver. E não te vejo. Opto. Não.
Escuto cada palavra que me diriges – se ma diriges – e sorvo-a por completa, desconstruo-a, decomponha-a em todas as pequenas infimas partes que a fazem ser o significado que tem e coloco-as dentro de mim. No lugar de onde nada sai.
Sei que me escutas. E eu em silêncio. Não te quero falar. Não te quero a ouvir-me falar. Nem uma palavra enquanto tu a respirares-me inteiro.
Sinto o teu cheiro no sabor que me ficou dos lábios a quase tocarem-te a face. Deposito cada fragmento do odor de ti e deixo-a a flutuar no que restar da minha pele suja e pétrida.
Sinto o teu corpo a segurar o meu. Sinto os teus dedos a invadirem-me os pensamentos e a agarrarem o que restava de mim dentro das memórias do que fui sem ter sido coisa nenhuma que tivesse valido a pena. E tu lá. Aqui.
Estou aqui.
E eu tão longe. Apesar de saber que me reconhecerias ainda no maior dos abismos de cinzas. Tu. A reconheceres quem sou. Incondicionalmente.
Aqui estou- aqui estás. Não estamos nós. O que eu recordava que fôra – um dia, em tempos sidos – uma qualquer coisa que tu podes sempre considerar não ter chegado a ser e que foi tanto mais do que tudo aquilo que alguma vez poderias ter querido que tivesse sido.
Queria poder estar aqui.
Toca-me. Morde-me. Rasga-me a pele inteira sem pudor nenhum. Finge que o que passou não foi mais do que o que passou e retorna-me ao meu corpo. Fere-me. Por dentro. Sem que tenhas medo. Nunca tiveste medo comigo. Fere-me.
Estendo os dedos ao limite máximo da fabilidade do ar que nos separa agora. A distância de um beijo e eu no recuar. Recuo. Um passo. A deixar-te ir. Dois passos. A deixar-me ir.
Não.
Estendo os dedos. Vou na demanda do toque de ti. Vou na demanda da memória do que me fez ser quem fui. Em ti. Do corpo de ti onde fui eu sem mais nada. Sem ter medo. E recuo. Porque recuo?
Não.
Estás aqui.
Não.

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