Monday, October 01, 2007

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Guardas os segredos inteiros das coisas por terminar como se os amanhãs não pudessem ser mais do que o que resta de um hoje incessante que se prolonga num movimento de espiral como breu nas noites de se ser uma repetição levada ao expoente máximo da exaustão.
Completas as peças ao construir a imagem. Imagem inacabada de sombras de gestos que não chegam a ser o movimento das coisas vivas porque se esquecem de respirar como se respirar pudesse ser um qualquer tipo de dor estranha que se entranha pela pele e percorre as veias das tintas derramadas no mais puro silêncio a que a solidão pode soar.
E nada disso tem a importância devida porque as coisas não chegam realmente a terminar. Nunca. Cada peça. Cada recomeço. Cada gesto enebriado no desejo de chegar ao lugar de onde se poderia – se a possibilidade fosse possível – ter permanecido sem vontade de voltar a partir. Over and over again. Como se a terra fosse lugar roto e os buracos em que tropeças uma qualquer lógica fisica como se um qualquer efeito de sucção a encontrar a tendência certa da gravidade e a queda inevitável a torar-se lugar sereno para parar. Apenas porque sim. Porque poucas outras coisas poderão chegar a ter importância.
Talvez possas até esconder o olhar por detrás da vontade de vêr tudo.
Talvez consigas poder esquecer o que te assola como rasgo de carne e sangue feito lava de encontro ao mar. Duas temperaturas a extremar. A fundir-te a alma e a fuga a tomar o rumo dos passos. Corre. Não olhes para trás. Corre. Pede ao mundo que aguarde por ti do outro lado da porta. À saida do labirinto. Para poderes retomar o caminho.
Não olhes para trás para não saberes a vertigem quando te encontrares em (des)equílibrio sobre uma aresta feita gelo inteiro da tua inconstância. Sente o corpo pender na distância como dança lenta que vem de dentro. E não pares nunca para olhar para trás. Ou a aresta a desfazer-se no calor do teu desejo insane. Ou a distância a perder-te no sentido descendente como se abismo feito caminho único. Não olhes. Guarda o olhar no sangue e deixa o vento correr-te nas mãos.
Guarda os segredos inteiros.

1 Comments:

Blogger solrac said...

Um texto desafogado feito de um só folgo, dando ao ar a sua ausência, mesmo quando a presença se manifesta.

O que se vê por detrás do que acontece...

12:48 AM  

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