Saturday, March 31, 2007

[skin] depois do dia

não importa tentar demais. cada alma sabe de si e de si apenas. não há como salvar ninguém daquilo a que cada um se condena. por si. em si. no tempo de si. talvez tudo no caminho, tudo, seja escolha. talvez nada esteja para além da escolha. da consequência da escolha. e por mais que o corpo se canse e o sangue cesse, não há que ter receio. o que resta é uma incomensurável necessidade de desaparecer.

[skin] suffocate

I can't breathe.

It's been so
long and still I can't breathe.

Friday, March 30, 2007

[skin] Diálogo

- Sabes...eu compreendo que não saibas que estou sozinho.
- Não sabes.
- Sei mais que o que podes sequer ousar pensar que eu possa saber sem que saibas o que sei definitivamente.
- Não sabes.
- Porquê?
- Porque não sabes. Porque eu não disse.
- Nunca precisaste dizer.
- Porquê?
- Porque eu vi para além dos olhos fechados. Vi tudo o que não querias mostrar e que tão inevitavelmente caía sobre mim.
- E depois.
- E depois nada. Depois não sabias. Nada.
- Talvez.
- Talvez?
- Não sabia.
- Eu sei.

Tuesday, March 27, 2007

[skin] pe-r-CE-p-ç-ão

De cada vez que batias à porta pensei que era eu quem chegava. Depois comecei a olhar-te bem e percebi. Percebi tudo.
Quando circulava por entre as pessoas dispostas entre as pedras dos passeios, pensei que era a minha sombra que corria nas sombras dos outros. Mas foi quando vi que a minha sombra não era sombra porque não era minha, percebi tudo.
Se o meu respirar encontrava a noite depois da música, oscilava no movimento ténue do peito e ansiava ser o movimento de mim que ali encontrava. Depois vi que as mãos não eram as minhas. Percebi tudo.
Mas foi no momento em que vi o que o sentir encontrava nos outros que entendi que não podia ser eu. Nunca podia ter sido eu. Porque eu não sentia. Eu não andava. Eu não tinha sombra. Eu não tinha respirar. Eu não estava na noite. Eu estava em tudo o que está depois de tudo o que falta. E isso não chegava para nada.

Sunday, March 25, 2007

[skin] mistaken

I’ve never been really alive, have I?
You’ve never been really here, have you?
We’ve never really touched each other, have we?
This was nothing but a bad dream, was it?
There’s no going through the same again, is there?
No one’s going to be able to see any of this, isn’t it?
Guess there’s not a soul out there anymore, is there?
I may walk through all of this alone, as always, may I not?
Someone other than me is going to put an end to this, won’t they?
Someone other than me is going to take the blame, isn't it?
Guess I must keep on walking until it’s really over, mustn’t I?
I’ve never been really alive, have I?

[skin] prison of glass

O tempo mudou. As horas sairam do sitio onde estavam e pararam algures entre o que iam chegar a ser antes de terem tentado.
Os segundos deixaram de ter tanta importância porque a ilusão diz que anoitece mais tarde. Depois da noite. Ou será antes?
As coisas inteiras do mundo todo mudaram de lugar. Os perfumes. Os perfumes mudaram de corpos. Os corpos mudaram de espaço.
Mas o resto continua aprisonado dentro de si mesmo. Nos mesmos lugares. Nos mesmos tempos. Como se nada tivesse mudado antes de anoitecer. Nem depois.
Todo o tempo pode mudar. Menos o que está preso. And it just might be a prison of glass.

Friday, March 23, 2007

[skin] σοφία

Hoje era dia do aniversário de ti. Mas tu não estavas.
Hoje vesti roupa de ti. E não estavas.
Soltei-me no teu cheiro. E continuavas sem estar.
Fui atrás de ti pelos caminhos onde sempre estiveste. Mas não estavas.
Sentei-me na ânsia a ver o dia seguir. Sem estares.
Depois, quando pude parar, olhei para dentro. Era aí que estavas. É aí que estás. É aí que ficas sempre.
Posso não te encontrar mas sei onde estás em mim.
Os anos passam – e tantos que passam – e por mais que tema perder-te na distância do tempo, ficarás sempre, de alguma forma, cravada em mim.
Sempre.
Para sempre.
Todos os dias são dias de ti.
Não importa quanto tempo continue a passar. Todos os dias.
Hoje era o aniversário de ti. E estavas aqui.

Sunday, March 18, 2007

[skin] saMurAi

Há um atalho que liga as duas margens.
É um caminho curto. Não deve demorar. De um lado a espada. Do outro o guerreiro.
Ninguém a confirmar os passos na distância. Nenhum objecto a interferir no caminho.
Havia um atalho a ligar as duas margens.
Agora só resta um gesto: um guerreiro samurai a fundir as duas margens.

[skin] -I_r-

Faz isto durar enquanto te for possível. Não pares para descansar. Enquanto conseguires. Não vale parares. Não pares.
Pousa a tua mão sobre a minha vontade e grita-me os ouvidos para te sentir. As oscilações das dores são resultado da rotina e a rotina é tudo o que o destino pode ser. Independentemente das palavras. Aparte dos gritos.
Os meus ouvidos como o lugar onde podes pousar os teus. Os que quiseres. Os gritos. Os silêncios. Sempre. Mas não me salves desta escuridão. Não hoje. Nunca. Não me salves. Não quero. Não preciso. Não tentes. Não consegues. Mas não pares. Estou cego. Não te vejo. Por isso não podes parar.
Remete a tua voz ao meu sangue para me fazer mover o corpo. Um. Dois. Um de novo. Três. Segue. Continua. Não precisas morrer. Eu sou o lugar onde tu acabas. Por isso nunca morres. Morro eu. Por ti. Mas não sei o que é amor. Não me salvas. Não. Deixa tudo assim. Na luz que deixou de ser meia para ser total a escuridão em que me espero encontrar.
Respiro sempre depois do ar. Quero respirar depois do ar. Para morrer. Para morrer. Nada do que tentas é em vão. Mas não me salvas. Os anjos todos já estão a dormir. Menos tu. Mas estás cansada. Tão cansada...Talvez seja melhor que pares agora. Podes parar. Já não faz mal. Já nada importa. És o lugar onde eu termino. Já não encontro o ar. Nenhum ar. Por isso podes parar. Seguro-te os dedos na minha queda e deixo-te em sossego. Repousa as tuas asas na minha ausência e segue. E segue. A rotina é o único destino possível e podes encontrar a tua. Estou em tudo o que fizeres. Não temas. Não tenhas medo depois de teres chegado aqui. Não quero que me salves. Quero que te salves. Segue agora. E não pares no caminho para olhar para trás. Os anjos já estão a acordar.

Saturday, March 17, 2007

[skin] birth

hoje nasceu um bebé especial.
hoje é um dia especial.

Friday, March 16, 2007

[skin] (d)e(s)pensar

Como pensar as coisas que se não quer pensar?
É como se pensar fosse o fio da navalha a acariciar a pele para depois rasgar a carne.

Podem as coisas que se não querem pensar desvanecer na incerteza da sua não conclusão?
Nada desaparece só porque cessamos de a olhar. Tudo permanece até estar completo. O desejo da completude é permanente. Insistente. Desesperante. Profundamente cravado no âmago das coisas mais fundas de serem algo que é só por ser, sem mais nada. Nada desaparece só porque se não tem a coragem de a olhar. De a saber. De a cuidar. De a deixar morrer. E o que fica, fica sempre na solidão de uma ferida aberta no silêncio dos erros por admitir. Erros que não saram. Feridas que estão longe da terra.
Que pensamento está nas coisas sobre as quais se não quer pensar?
A fabilidade. O medo. A fuga. O erro.

Wednesday, March 14, 2007

[skin] - - - -

não consigo fechar os olhos.
acho que estou a olhar para ti. ou não. talvez seja apenas um reflexo e no fundo eu não esteja a ver nada.a cegueira a poder ser o lugar onde vou poder parar.depois da ânsia de de prosseguir a fuga. talvez chegue a parar. mas não consigo fechar os olhos. não consigo. tacteio o espaço que ocupo e sinto a eminência do vazio. penso que posso poder parar. mas só depois da saber de onde vim. o ar da noite pode até estar frio mas não o sinto nos olhos abertos. talvez possa conseguir dormir. os olhos abertos em mim.

[skin] beijo

tão fácil quanto um beijo
suavemente sentir o que se aproxima como uma pele suave. não se teme o que se conhece por dentro.


e de repente o hálito a transformar a pele em cinzas e os lábios a gritarem a distância. o temor do que não se vê chegar.
tão dificil quanto um beijo.

Tuesday, March 13, 2007

[skin] voiDe

"I'm in the midle of nothing and it's where I want to be"
"The Story": 30 seconds to mars

Monday, March 12, 2007

[skin] 3'

Sei que não sentes o que eu sinto quando sentes que não sinto aquilo que sinto antes que tu possas sentir qualquer coisa semelhante à que eu sinto quando te sinto no lugar que não sentes como teu e que eu sei, na certeza de quem reconhece a existência do teu Deus, que tudo está no lugar em que sentes que eu posso sentir sem ter de te dizer o que sinto depois do momento exacto em que deixo de sentir o que querias que sentisse antes de sentires por mim o que eu nunca deixei que sentisses para depois me dizeres que não sentes porque não sabes sentir o que vem depois do sentimento de não haver nada que sentir.

[skin] jC

Por mais que tentes, não se move. O corpo.
Podes continuar a tentar.
Tens os movimentos presos na angústia das rugas. O tempo talvez não chegue nunca a perdoar quem passa em si.
O desespero marcado no movimento cessado.
Por mais que tentes. E ainda tentas.
After all this time.
A cama a ser lugar único onde a existência finge que se mantém viva. Mas não. Sabes bem que não. É o corpo que to diz. Não.
A dormência a enebriar o que resta dos gestos. E depois, na sensação febril de quem atinge o climax do delirium, chegas ao fim da questão. Não.
E continuas. O copo a dizer não e tu continuas.
Como se fosse a última réstea de esperança. Como se fosse a última possibilidade.
Como se te sentisses viva.
O tempo não te perdoou depois de tanto tempo. As rugas nas mãos. As mãos no tremor dos dias infindáveis.
O tempo a ser o destino cruel a que, na revolta, te sentes votada.
E não queres cessar o movimento.
Mas o corpo a dizer. Não.