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J tem uma perna apenas. Diz que foi negligência médica. Diz que foi negligência sua. Pergunta-me de quem foi a negligência. Digo-lhe que nada sei.
Saltita por entre os degraus e obstáculos sujos de uma pensão cheia de manha numa qualquer rua emersa no nos 38.5 graus de Lisboa. Hoje. Hoje o dia em que J chorou e disse que era uma “psico” armada contra ele. Todos fazem parte da “psico”. Digo-lhe que não sei o que é a “psico” mas sei. E os dias sucedem-se iguais às noites e o espaço a tornar-se cada vez mais apertado para os delírios, para a vontade de morrer, para a certeza de que não há mais nada depois de hoje. E todos fazem parte do abismo em que J se arrasta na sua já única perna, emagrecida, com três cicatrizes. Como no braço direito, em que se segura para chegar ao lugar em que se sente seguro. Espera ardentemente que alguém lhe ponha a cadeira de rodas que não rodam porque há cinco degraus a separar J da rua. E lá fora é como se ainda houvesse um resto de uma qualquer vida. Ou não. Mas não pode ir nas canadianas porque as canadianas não conseguem suster-lhe a respiração ofegante de quem já não tem nada a perder para além do equilíbrio. J tem os olhos verde-água cobertos de lágrimas e de suor. Pede-me que o salve. Eu digo-lhe que não. Mas sorrio e digo que volto. E isso é como se bastasse porque a cadeira hoje, pelo menos hoje, desceu os cinco degraus que separam J da vida.
Saltita por entre os degraus e obstáculos sujos de uma pensão cheia de manha numa qualquer rua emersa no nos 38.5 graus de Lisboa. Hoje. Hoje o dia em que J chorou e disse que era uma “psico” armada contra ele. Todos fazem parte da “psico”. Digo-lhe que não sei o que é a “psico” mas sei. E os dias sucedem-se iguais às noites e o espaço a tornar-se cada vez mais apertado para os delírios, para a vontade de morrer, para a certeza de que não há mais nada depois de hoje. E todos fazem parte do abismo em que J se arrasta na sua já única perna, emagrecida, com três cicatrizes. Como no braço direito, em que se segura para chegar ao lugar em que se sente seguro. Espera ardentemente que alguém lhe ponha a cadeira de rodas que não rodam porque há cinco degraus a separar J da rua. E lá fora é como se ainda houvesse um resto de uma qualquer vida. Ou não. Mas não pode ir nas canadianas porque as canadianas não conseguem suster-lhe a respiração ofegante de quem já não tem nada a perder para além do equilíbrio. J tem os olhos verde-água cobertos de lágrimas e de suor. Pede-me que o salve. Eu digo-lhe que não. Mas sorrio e digo que volto. E isso é como se bastasse porque a cadeira hoje, pelo menos hoje, desceu os cinco degraus que separam J da vida.
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