Wednesday, August 30, 2006

[blood] homeless

sao imigrantes. negros como a noite ou talvez ainda mais. pq o espirito esse ja morreu ha anos e levou-lhes a cor e a esperança.
hoje vao ficar sem barraca.
mas que interessa isso? que direitos tem esses? andam tantos a trabalhar e vem os la de africa...
ele trabalhou para o senhor branco no mato. ainda chora quando se lembra do senhor portugues que o tratava tao bem. os olhos, graças a diabetes so lhe servem para expulsar as lagrimas. as pernas também já não funcioam, porque um rato com fome alimentou-se da sua miseria. "mas dr.ª o bicho não teve culpa, como eu tinha fome" a mulher arrasta-se. tem que ser devar porque o coração dispara. fugida da guerra primeiro dos brancos. depois dos pretos. a seguir da miseria. agora em portugal, com o marido a morrer e o filho preso. desistiu da guerra. espera o momento de fechar os olhos.
viveram 55 anos a servir os brancos. mas hoje nem as tabuas a que chamam casa lhes resta...

[blood] nada

Hoje leva-me para longe. Para longe de min e de ti.
Para o longe do nada. Para o perto do tudo.
Hoje dá-me um tempo sem horas.
Banha-me de silêncio.
Deixa que o hoje seja simplesmente um momento de nada.
Porque hoje o tudo é nada
E a sós, o nada será tudo.

Tuesday, August 29, 2006

[skin] viagem

rasga-se o tempo na vontade de não voltar ao lugar de onde se partiu...
pelo menos não ainda...
pelo menos não já...
e o corpo a chegar de novo ao lugar de onde a alma não soube sair.

Friday, August 25, 2006

[skin] blind spot

Deixa-me um segundo.
Espera até conseguir respirar. Não me toques. Peço-te que não me toques.
Arde-me a pele toda… Afasta-te, por favor.
Não! Não digas nada. Porque é que nunca te consegues manter em silêncio? Porque insistes sempre em manter essa relação bélica com as palavras que nunca te levam a lado nenhum?
Não olhes para mim. Não consigo lutar contra o lado de ti que eu não sou. Pelo menos hoje não consigo.
Por favor sai. E não olhes para trás. E não voltes para trás.
Já aqui não estou.


(ao som de Black SwanThom Yorke)

Thursday, August 24, 2006

[skin] *mestre*

Hoje é um dia em que a noite fica reservada ao silêncio.
Penso em ti, Mestreamigofeitocaminhocondensadonaluzemquetemoves
deasasabertasreflectindooluardetieficoaquinaesperadeticontemplando
osilencioesendoolugarondepodesvirgritarseadorchegaratinaquelaformadaqualsenãopodefugir.

Monday, August 21, 2006

[skin] além. aquém. tu´alma [to B.]

Estrada.
O calor a levantar-se na poeira e a desvelar o caminho.
O tempo a ter apenas a duração precisa do sopro do vento no soltar do cabelo.
As mãos a tocarem as cordas da estrada que a vida vai deixando atravessar...e a melodia...
"Alma leve" no peso da certeza de que o caminho - que é tumulto, que é vidro a rasgar a carne, que é sangue a cair na chuva, que é chaga aberta no sal - é o lugar sagrado onde as asas não quedam.
Estrada.
A viagem a desenhar o destino em cada grão de pó, em cada fragmento de pedra, em cada sombra... sem olhar para trás.
No toque dos dedos, a paixão feita som. No sentir, o destino manifesto no por vir. No desejar, a vontade tornada caminho. Na luta, a certeza de ser rasgo do divino na demanda da luz...
e além disso,
e aquém disso,
..."Alma Leve".

Sunday, August 20, 2006

[skin] espera [to little sunshine]

Esperar.
O verbo a revelar a ânsia manifesta no tremer dos dedos.
A ânsia a deixar desvelar o que está por detrás do véu do sentir...
Talvez o te(a)mor...
Esperar.
Sentir o sentimento que tem lugar na desesperança de saber - bem fundo - a ausência do sentido para a espera quando a espera mais não devia ser, em si mesma, do que o lugar onde não é preciso chegar quando tudo está na velocidade certa de acontecer.
E a impaciência a cravar no peito a incerteza.
E a incerteza a ser o lugar onde o fogo chega e devasta tudo.
E depois cinzas...E depois a terra a não respirar...
E depois o te(a)mor...E ainda o te(a)mor...
à espera.

Tuesday, August 15, 2006

[skin] 14.08.2006

as temperaturas desceram. os incêndios não pararam.
o trânsito alucinou. o conflito no médio oriente não abrandou.
o verão continua e cheira a férias. a miséria da condição humana não fez as malas.
as horas atropelam-se. o tempo não chega.
está uma noite para ouvir. não há mais nada a dizer.
pousem as armas. fechem os olhos.

Sunday, August 13, 2006

[skin] under.inside.in.

Hoje durmo contigo. A minha pele respira o cheiro da tua e não consigo fugir-te. Quase como se fosse incondicional o meu estar em ti. O cheiro percorre-me o corpo todo. Soletra-me o que poderia ser teu nome enquanto me devasta a alma e me deixa descansar. Hoje deixei-te ficar. Em silêncio seguro o que restou na ponta dos dedos e sinto tudo no respirar. Não sei porquê. Nunca compreendo os restos que permanecem. Mas ficaste tanto que me dói no corpo todo a tua falta. Hoje poderia ter durado uma eternidade. Todo o movimento que ouso fazer anuncia o lugar que ocupas. Talvez não o tenha visto até agora. Talvez não tenha querido ver nada até este momento. Hoje dura o tempo todo que o teu cheiro se mantiver em mim. É o lugar que ocupas. Under my skin. Inside my soul. In almost everything I am. Quase como incondicional. Pelo menos enquanto hoje for hoje.

Friday, August 11, 2006

[blood] amar. simplesmente amar.

Domingo. 8h da manha.
O irmão dorme e recupera da emoçao que o alcool e os amigos trazem sempre que se é jovem. Ela ainda é mais jovem.
Segue caminho. Esta na sala com mais 300 pessoas, criminosos, familias que tentam numa hora sentir que também são gente. Ao lado entre a correria das crianças para quem a visita a prisao significa um belo passeio de domingo, cenas de sexo..movimentos desesperados por se lembrarem que ainda tem corpo e os olhos dos outros já não interessam. Há lágrimas. Há risos. Há esperança. Tudo misturado.
E o irmão dorme. Tem direito a isso é jovem!
Ela é jovem, mas não tem direito a se-lo. È bonita, intelegente, mulher de sucesso. Mas é domingo e esta no parlatório de uma prisão.
Se o amor existe. É isto. São 5 anos dedicados a uma pessoa. Uma vida adiada, uma juventude que foi posta de lado, porque o amor é-lhe mais importante. Porque a liberdade não lhe interessa. Nada lhe é mais importante do que simplesmente amar.
Ele cometeu o crime. Ela partilha a pena.

[skin] J

J tem uma perna apenas. Diz que foi negligência médica. Diz que foi negligência sua. Pergunta-me de quem foi a negligência. Digo-lhe que nada sei.
Saltita por entre os degraus e obstáculos sujos de uma pensão cheia de manha numa qualquer rua emersa no nos 38.5 graus de Lisboa. Hoje. Hoje o dia em que J chorou e disse que era uma “psico” armada contra ele. Todos fazem parte da “psico”. Digo-lhe que não sei o que é a “psico” mas sei. E os dias sucedem-se iguais às noites e o espaço a tornar-se cada vez mais apertado para os delírios, para a vontade de morrer, para a certeza de que não há mais nada depois de hoje. E todos fazem parte do abismo em que J se arrasta na sua já única perna, emagrecida, com três cicatrizes. Como no braço direito, em que se segura para chegar ao lugar em que se sente seguro. Espera ardentemente que alguém lhe ponha a cadeira de rodas que não rodam porque há cinco degraus a separar J da rua. E lá fora é como se ainda houvesse um resto de uma qualquer vida. Ou não. Mas não pode ir nas canadianas porque as canadianas não conseguem suster-lhe a respiração ofegante de quem já não tem nada a perder para além do equilíbrio. J tem os olhos verde-água cobertos de lágrimas e de suor. Pede-me que o salve. Eu digo-lhe que não. Mas sorrio e digo que volto. E isso é como se bastasse porque a cadeira hoje, pelo menos hoje, desceu os cinco degraus que separam J da vida.

Monday, August 07, 2006

[blood] respira

Não te esqueças de respirar. Respira, por muito que corras, o tempo não acumula minutos bónus para viver amanha. Respira, por muita que seja a tua sede, quanto mais ânsia menos fôlego e mais tarde chegas ao liquido. Respira, por muito que te esforces, hoje não tem mais horas de que ontem. Respira, ainda não é hoje que despachas o trabalho, não é hoje que tens todos os orgasmos, não é hoje que ficas mais magro...
Inspira,
Expira,
Fá-lo de novo e mais uma vez.

Sunday, August 06, 2006

[skin]

Há solidão na noite. Irremediavelmente. Em todos os seres. Em todos os corpos. Em todos os sons.
A respiração a tornar-se lenta como um gesto que se contém na iminência da queda.
A cessação do dia. O suspiro final na arrumação de tudo o que ficou por fazer.
O atravessar das ruas plenas de corpos que brilham por entre os copos vazios no arrastar dos passos.
Uma luta frenética por entre fragmentos de existências desprovidas do sentido que as faz mover. E ainda assim o movimento a ser a constante por entre todos os ruidos.
A beleza em todas as coisas que existem, que são, que tentam ser.
E no final do tempo que a noite permite ter, o espasmo de agonia...a certeza de se ser, irremediavel e incontornavelmente, o absoluto da solidão e nada mais haver para além disso.
There´s no rescue from who we are.

Friday, August 04, 2006

[blood] deixa

Deixa o tempo ir.
Esquece que és mais do que corpo.
Deixa o teu cabelo ser guiado pelo vento e sente a brisa a refrescar-te a face.
Deixa que esse amor que tens para dar [mesmo que seja um amor de tempo contado] ganhe vontade própria e deixa-te ir!
Vai ate onde a força te permitir, e n olhes para baixo.
Deixa que a lua te conduza até ao nascer do sol.
Porque amar é isso.
Um momento sem relógio...a quem não tens que mudar as pilhas...quando acabar, acabou...

Thursday, August 03, 2006

[skin]

Em cada sombra, a certeza da possibilidade de ter havido luz. Em cada fragmento de luz, a antecipação do gesto. Em cada gesto, a permanência de um qualquer sentido que possa ter sentido quando não há sentido nenhum para o sentido. Talvez a história dos dias seja curta. Talvez não haja qualquer glória, nem heróis, nem forças divinas. Talvez não exista nada para além daquilo que podemos ver, aqui, de perto, na certeza do respirar, na ousar pousar os dedos sobre a terra e sentir na esperança de que a chuva retorne. Talvez não exista muito mais para além deste lugar das coisas sem sentido... mas pode haver neste lugar o lugar à crença de que depois há o lugar onde as coisas todas começam?