Friday, January 11, 2008

[skin] 02'07'2007

Diz-me só o que estavas a pensar dizer antes que eu morra. Depois disso nenhuma contradição me pode desdizer. Nenhuma palavra te pode contradizer. E depois eu posso morrer. Tenho esperado sempre por este momento. O momento em que as coisas acabam e eu posso desaparecer como se as coisas acabassem ao ponto de eu poder desaparecer sempre sem poder nunca aparecer no lugar das coisas findas. Não guardes muita coisa para o fim. Já devia sobrar pouco. Devia sobrar já muito pouco visto que os anos já viram tudo o que havia para ser visto com olhos de gente cega que tudo vê. Nenhuma visão te pode distorcer. Nenhuma miopia te pode desvanecer na imagem que tenho de ti. Presa nos cabos. Rasgada nos fios. Aberto para a tempestade que não chega a chegar dado que isto ainda não é um deserto. Há muita areia a correr. Não. A escorrer. Nos dedos mas ainda não é um deserto por mais que queira escorrer. Não. Correr-me por entre os dedos que eu já não tenho presos aos teus cabelos. Soltos. Não. Presos. Presos aos dedos nos cabelos presos. Pretos. Presos. Teus cabelos a moldarem-me as mãos e a prenderem-me o gesto para que eu não mostre. Para que eu não possa mostrar. Nada. Na tempestade que não é tempestade e os braços a fecharem o cabelo preto na morte que anuncia a minha queda. Não na areia porque entretanto já só há água. Porque o vento chega e trouxe o que faltava. A água. Tu. A água. Diz-me só o que estavas a pensar não dizer. Porque eu já morri.

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