Tuesday, November 13, 2007

[skin] Tentativa

Não estás. Quando olho para o lado. Não estás.
Respiro e tenho a certeza. Sinto o cheiro e volto atrás. Tenho a certeza.
Tenho asas a cobrir-me o corpo e sei. Fecho os olhos. Sei.
Não estás. Quando olho para trás. Nunca.
De cada vez que penso saber continuar o caminho tropeço nos dedos e quedo. Sei. Que quedo. E mesmo assim não tem importância. A dúvida a ser a única certeza possível e daí não sei mexer mais os membros.
Tento andar. Olhar para o lado. Fechar as asas. Parar. Sei. Tenho a certeza. Nunca estás.

Monday, November 12, 2007

[skin] A quem partiu

Os anos que passam são como as folhas de Outono. As de antigamente. O Outono que ainda era Outono e as árvores se despiam ao vento na ânsia de poder recuperar, mais tarde, a sua pele mais viva.
Os anos são as folhas. Talvez nós sejamos o vento. O que passa. O que fica. O que permanece. E o que encobre. O tempo encoberto e a debilidade das quedas por entre as folhas.
E as árvores também morrem. E as árvores também choram. E as pessoas desaparecem da nossa vida, da vida de todos os dias vivida na pressa de chegar ao lugar, a um qualquer lugar a que sem não conhece o nome. E um dia chega-se ao lugar de todos os dias e percebemos a falta. A lacuna. A ausência. As pessoas desaparecem da nossa vida como folhas levadas no vento. No tempo.
Pessoas que estavam ali. Num lugar sobejamente conhecido porque intrinsecamente dissecado. Pessoas a olharem-nos de frente e a verem o seu reflexo em nós. Beleza. A beleza de todos os dias feios.
Um tempo. O pedido de um tempo. Para saber mais. Para conhecer mais. E o tempo a levar no vento o pedido. Por entre o rir. Por entre o falar. Palavras e mais palavras por entre sorrisos verdadeiros. A brincar. De verdade. Como crianças. Árvores a vestirem-se no chegar da primavera. Uma nova pele. Um novo começo.
E tu a partires.
Hoje.
Na fealdade de um dia verdadeiramente verdadeiro.
Tua ausência e tua distância a recordarem o tamanho do vento. Do tempo. Das folhas no caminho que já não vamos continuar a percorrer.
As folhas a desenharem-te a face – doente mas viva – no rir dos dias feios mas verdades incondicionais.
Conhecias bem o caminho que te conduzia. Por entre as folhas. Ao colo do vento. E chegaste onde querias. O lugar a que deste teu nome. Mário. Teu nome. No vento que me diz que há verdade no recomeço.
R.I.P.

Sunday, November 11, 2007

[skin] Strange Kind of Love - Peter Murphy

A strange kind of love
A strange kind of feeling
Swims through your eyes
And like the doors
To a wide vast dominion
They open to your prize

This is no terror ground
Or place for the rage
No broken hearts
White wash lies
Just a taste for the truth
Perfect taste choice and meaning
A look into your eyes

Blind to the gemstone alone
A smile from a frown circles round
Should he stay or should he go
Let him shout a rage so strong
A rage that knows no right or wrong
And take a little piece of you
There is no middle ground
Or that's how it seems
For us to walk or to take
Instead we tumble down
Either side left or right
To love or to hate.

Strange Kind of Love - Peter Murphy - "Wild Birds"

[skin] Forgive Me.

Forgive me. I can’t be who you need.
Forgive me. I can’t fly to where you are.
Understand that I’m absolutely unable to be better than this. And this is not what you asked of me.
Forgive. Me.
I really can’t be good enough.
I will never find a place for me in your world. And you’ll never see me there. You can never find me there. So don’t feel sad. We can’t stay together. We were meant to be. Not to stay.
You mean the world to me. Like the air that keeps me breathing. So I have to go. So I have to let you go.
Forgive me.

Friday, November 09, 2007

[skin] 12 de Junho (Coisas antigas)

Não sei o que faço. Perco o controlo dos membros. Perco a segurança da gravidade. Esqueço a memória. Espalho os sentidos.
A sinestesia a crescer. A personificação de coisas por serem a deixar desvelar o sentido por nascer. Fruto. São frutos de pensamentos meus os que rodeiam o mundo.
Navego numa aresta. A aresta é fria. De um quadrado. Não. Uma aresta de triângulo e eu a ser o centro. O centro do lugar onde as coisas encontram o seu fim. Para depois recomeçar. Para não poder recomeçar. Mais um tiro. Só mais um tiro. No pé. Na mão. Não sinto os dedos. Venho a perder o controlo e a gravidade a adorar-me na queda adiada.
Não sei bem o que faço.

[skin] rejeição (coisas antigas)

Rejeito-te todas as vezes que me rejeito
inteiro
Sombra desfeita na imagem de ti
absoluta
Resquícios de uma tentativa deixada no abandono
deserto de mim

Rejeito-me todas as vezes
absoluto deserto
Terra árida em teu abraço
areia sedenta
Prenúncio de morte na certeza da partida.

Rejeito-te porque me rejeito
como ferida e sal
Tu luz eu sombra
Abandono
Areia em tua mãos
areia sob a terra. Caminhar.
Certeza de que o fim não tarda.

Rejeito-me pela intolerância de mim.
Rejeito-te pela inexistência de mim.
Abandono-te porque me desconheço.
Estrada em mim. Areia.
Deserto tornado fé em ti.
Paris, 2005

Màrio Cesariny - Em todas as ruas te encontro

Em todas as ruas te encontro
Em todas as ruas te perco
conheço tão bem o teu corpo
sonhei tanto a tua figura
que é de olhos fechados que eu ando
a limitar a tua altura
e bebo a água e sorvo o ar
que te atravessou a cintura
tanto, tão perto, tão real
que o meu corpo se transfigura
e toca o seu próprio elemento
num corpo que já não é seu
num rio que desapareceu
onde um braço teu me procura

Em todas as ruas te encontro
Em todas as ruas te perco


Mário Cesariny in Pena Capital, 1957

[skin] coisa antiga

Queria que tivesses gostado do meu corpo como eu da chuva. Que tivesses amado o meu toque como eu o vento. Que quisesses ter permanecido no meu abraço como eu no tempo. Que quisesses ter conhecido o que está por dentro como eu conhecia o caminho até chegar a ti. Queria que tivesses ouvido as palavras todas quando eu as disse. Que tivesses percebido o silêncio quando eu parei de falar. Que quisesses ter sabido a causa, o porquê, o motivo, o que eu era depois de ti. Gostava que tivesses visto a parte de ti que estava em mim. E isso teria sido o suficiente.

Tuesday, November 06, 2007

[skin] Incapacidade

inteira-te do que me reveste antes de morderes.
não deixes nenhum bocadinho por experimentar.
começa no que resta do fim para poderes chegar ao início.
apanha o tempo do chão e guarda-o no bolso para não fazer falta.
pondera antes de me matares se vai chegar para o Inverno todo.
aguarda até o corpo estar morno para avançares.
cinge-te ao mais ínfimo dos pormenores para saberes tudo.
inteira-te do que me cobre antes de continuares.
deixa que a minha pele te escreva o que falta de letras.
aponta os dedos para a lua e sente o vento fluir.
deixa-me no momento exacto em que tiveres a mais breve das dúvidas.
enquanto é tempo.