[skin] Parar Aqui
Segura o que resta de mim. Finge que não me deixas partir. Finge que não sabes nem podes deixar. Segura-me no que resta de tudo isto. Não esqueças a primeira letra do meu nome. O resto apaga. Apaga tudo o que restar. Podes mesmo fechar os olhos. Fechar os dedos sobre a palma das tuas mãos. Basta-me que finjas. Nem precisas esforçar-te muito. Não importa. Bastam-me uns segundos. E depois parto. Uns segundos apenas. Depois. Parti. Enquanto finges eu tenho a certeza que existo. Respiro. Sinto. Temo. Perco. É aí que me sei. Lugar nenhum. Lugar suspenso em que tento crer que seguras. Restos. Os restos apenas. O resto que está para além de tudo o que restou. Não importa. Nunca importou. Não te importou. Nunca. Agora sobre os dedos fechados das tuas mãos. Guarda apenas a letra que inicia. Não que isso interesse. Não que importe. Mas é o que basta. Quero fingir que acredito. Preciso. Para reter os restos. Arrasto-me. Apesar do cansaço que sinto cair sobre os olhos fechados. Não os teus. Os meus. O tempo a ser absolutamente nada no seu rigor de ser presente. Hoje. Mais nada. Não interessa nada para além disso. Hoje. Todos os dias a serem o dia de hoje o dia que foi hoje o ontem e o dia que será hoje no amanhã. E não mais que isso. Não ficará espaço suficiente para me veres. Não. Podemos parar aqui. Podes parar de fingir aqui. Hoje. Os dedos sobre as palavras fechadas a certificar o silêncio que chega antes da chuva. Parar aqui.
0 Comments:
Post a Comment
<< Home