Tuesday, December 26, 2006

[skin] revelação

Mostra-me o que resta.
Depois daí não há grande coisa para ver.
Mostra-me o último buraco. A última cratera.
Depois da lava só a pedra.
Não faz tanto calor quanto o que sentes.
A pele a arder como se o frio fosse a salvação feita prenúncio de mudança.
Mas não. O calor a queimar na temperatura que é pólo negativo. Negativo. Negativo.
Um delírio. Dois delírios.
Duas vezes. Um delírio.
Depois deste momento em que as vozes são o comando das ondas, o mar a ser o deserto.
Incenso. Há incenso no ar e depois lava.
Pó. Fumo. Cinzas. Pó.
Não faz tanto frio quanto os teus lábios insinuam.
Não tremas. Deixa o corpo repousar.
Pousa a mão sobre o sexo e sente queimar.
Em delírio. De novo o delírio.
As vozes a não dizerem nada. As vozes a não entrarem dentro da tua cabeça de novo. Não desta vez. Não como das outras vezes. Não há como. Mas deserto.
Ainda o deserto.

Mostro-te o que restou.
Depois disto não há nada para ver. Nada.
Mostro-te o último grito. O último corte na obscuridade de ti.
Já não lava. Deixou de haver lava. Só pedra. Pedra negra.
Não há nada que aqueça o corpo. Nem a mão sobre o sexo. Nem o sexo sobre o sexo.
A salvação a ser condenação absoluta de não haver mais lugar para onde voltar.
Não faz frio. Está frio.
O delírio absoluto. A ausência tornada espaço onde se pode ficar inteiro. Ausência.
O mar a ser deserto e a areia a ser os dedos. Nas ondas. Num mar que não é mar, que deixou de ser mar para ser deserto.
Não há incenso. Não houve incenso. Nenhum odor a circular no tempo.
Os teus lábios a tocar as minhas costas pela última vez. E não há insinuação. Há anúncio. Última vez. Pela última vez.
Tremes. Tremes qundo te percorro a alma com a língua e sabes reconhecer o frio a trespassar a areia.
Cinzas. Areia. Pós. Cinzas.
Pousa a mão sobre o meu sexo e vê-me morrer. Pela última vez.
Delira. Sente o delírio a revelar a ausência.
Não há vozes. Estou em silêncio. Depois do tempo. O silêncio que vem no fim do tempo. Nada dentro da tua cabeça.
Desta vez não há mais nada. Nem desculpa. Nem crime. Nada. Desta vez. A última vez.
Mostro-te o que restou.
Não restou nada.

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